Mulheres excepcionais

sexta-feira, 16 de março de 2012

Tertúlia no Casino

Debates no casino é uma boa idea do Casino da Figueira da Foz, que nos remete para as Conferências do Casino, de que surgiu a Geração de 70 (Eça de Queirós, Antero de Quental, etc.). O casino do grupo Amorim está a dedicar o mês de Março à Mulher e a 21, pelas 22 horas, promove a tertúlia "As mulheres normais têm qualquer coisa de excepcional", com base no livro que escrevi e a que dou continuidade neste blogue. Numa mesa redonda, moderada por Marta Atalaya, jornalista da Sic Notícias, estarei à conversa com duas das biografadas no livro: Soledade Carvalho Duarte, managing partner da Invesco Transearch, e Cristina Amaro, fundadora e apresentadora do programa "Imagens de Marca", da Sic Notícias.

Encontra o press release da Lusa aqui, com mais informações.

domingo, 11 de março de 2012

A viagem a Calcutá

Maria do Carmo Alvares em Calcutá, em Fevereiro de 2012
Mãe, de quatro filhos (de 22, 19, 13 e 9 anos), Maria do Carmo Alvares comprou dois bilhetes de avião e em Fevereiro partiu com a filha mais velha para Calcutá para durante duas semanas trabalharem como voluntárias nas Missionárias da Caridade, a instituição criada por madre Teresa. Era um chamamento a que sentia ter de responder. No regresso percebeu porquê.


Quando conheceu a Índia?
Há quase sete anos, eu era a única de um grupo de amigos que não queria ir à India – não queria ver miséria, pobreza... O meu marido é descendente de goeses (o meu sogro nasceu lá) e eu só queria ir a Goa porque sabia que era mais leve.
Comecei por descobrir a espiritualidade dos indianos na subida do Ganges, em Varanasi, que representa desde o nascimento até à pira da morte, que está no Norte, com todas as correntezas, que são as dificuldades que vamos encontrando. O nascer do sol a bater nos Ghats [escadarias que dão para o rio Ganges], os lençóis lavados e estendidos pelos homens, as pessoas a lavarem-se naquela água que apesar de ser imunda para eles é pura – tudo aquilo começou-me logo a fascinar. 
Fizémos o Rajastão todo, fomos a Deli, Bombaim e comecei-me a apaixonar por aquele povo. Tudo me atraía: a lixeira, o olhar profundo, aquele sorriso, as cores dos saris, a loucura de se transportarem em motas que podiam levar cinco pessoas e um colchão. Eu dirigia-me a todas as crianças e a todos os velhos. Sentia que tinha ali uma missão. Demorou uns anos a compreender qual. Aliado a isto, a obra da madre Teresa sempre me fascinou porque ela foi buscar o mais pobre dos pobres. Durante anos eu sentia que tinha de voltar à India, que a India me chamava.
Por que levou a sua filha consigo?
A minha filha, de 22 anos, também quis ir. Achei que lhe ia fazer bem, ver outras realidades e que nos iriamos ajudar mutuamente. E em Fevereiro fomos as duas.
Já conhecia o trabalho das Missionárias da Caridade? 
Já tinha visitado o centro das Missionárias da Caridade em Lisboa, em Chelas, de idosos. Há outro em Setúbal, para crianças deficientes, que visitei em Dezembro. Estive bastante tempo a falar com a irmã Chris, que é escocesa. Estava tudo muito arranjadinho; as camaratas das meninas tinham sido alvo de uma remodelação pelo programa da SIC “Querido mudei a casa”.
Eu andei num colégio de freiras, trabalho [em voluntariado] no Movimento Apostólico de Schoenstatt [movimento apostólico mariano fundado em 1914], por isso também lido com padres, com irmãs, mas ali encontrei uma paz diferente. 
Como conseguiu trabalhar nas Missionárias da Caridade em Calcutá?
É fácil. Basta dirigir-se à casa-mãe, às segundas, quartas e sextas. Às 3 da tarde há a inscrição dos voluntários. Eu cheguei a uma quinta-feira a Calcutá, que é o dia de folga na instituição. O nosso hotel era ao pé da casa-mãe da instituição. Na sexta dirigi-me lá e disse que me queria inscrever. Levaram-me para outro centro, onde fiquei a trabalhar. Pode-se escolher a língua em que se quer receber a informação acerca do funcionamento e eu escolhi o inglês. Falámos com a sister Mercy Mary, que é a responsável pelo voluntariado, e ela perguntou-nos qual o centro para onde queríamos ir. Fizemos a entrevista juntas; acharam muita graça sermos mãe e filha, porque não é usual nos voluntários. Também não é usual as pessoas das minha idade fazerem voluntariado – a maior parte tem entre 18 e 30 e poucos anos. Pedimos para ficar com as crianças deficientes. E no sábado começámos a trabalhar.
Como eram os seus dias de trabalho?
Cuidava das crianças. Entravamos às oito. Havia missa às seis da manhã, para quem quisesse. Depois tínhamos o pequeno-almoço dos voluntários: chai [chá com leite e especiarias], umas fatias de pão sem nada e uma banana, que foi diminuindo de tamanho. Depois cada um partia para o seu centro. Começávamos com a oração do voluntário, uma Ave-maria com a irmã, descalçávamo-nos e escolhíamos uma criança, todos os dias uma diferente. Víamos o dossiê, para saber o que era melhor fazer com ela, a que reagia melhor, o que podíamos fazer fisicamente com ela. Dávamos o pequeno-almoço, o almoço (o que podia demorar bastante tempo), mudávamos as fraldas, deitávamos as crianças nas caminhas… Trabalhávamos como nos tinham ensinado.
Havia o intervalo das voluntárias, que era passado num dos três terraços, onde estendiam as roupas das crianças. Ali estávamos a tomar chai e algumas bolachas, com voluntários de todas as nacionalidades: conversávamos acerca do que as levou ali, o que fazem nos seus países, o que pensam fazer futuramente. É muito feio ter inveja, mas eu tinha inveja daquelas que diziam que já lá estavam há um mês e iam ficar mais três. 
Não fez turismo?
Foi sempre a trabalhar. Passeámos um pouco, mas Calcutá também não tem muito para ver. Na quinta-feira, que é folga, fomos visitar um centro de leprosos. O nosso hotel era em Bose Road, que é o bairro dos voluntários. Íamos ao Spanish Café, onde se encontram os voluntários todos. 
Pensa que valeu a pena, do ponto de vista da instituição, só aqueles quinze dias? 
A pessoa que vai a seguir, vai prosseguir o trabalho que eu fiz. O amor que eu dei há de ser diferente do amor da pessoa que vem a seguir, mas há amor. O que interessa é que nos demos e demos o melhor que temos em nós.
O seu filho perguntou-lhe por que, em vez de partir, não doava o dinheiro das viagens a essa instituição. Faço-lhe a mesma pergunta.
Claro que o dinheiro é importante, mas mais importante é o que nós recebemos desde pequenos e isso não adquirimos com dinheiro, mas com o amor que recebemos dos que nos rodeiam! E é claro que tenho intenção de ir trabalhar com as Missionárias da Caridade em Setubal!
Emocionalmente, não lhe foi difícil lidar com essa realidade?
Consigo-me distanciar. Fiquei tão feliz, tão feliz, de encontrar uma instituição que vai buscar estas pessoas às ruas, que nunca senti tristeza, ou horror, mas sempre um amor tão grande, que nem me chocava a realidade com que lidava. Ao fim de uma semana cheguei à conclusão que o meu maior choque foi pensar que me podia ter chocado com alguma coisa. Chorei várias vezes de emoção, por estar ali e me dar completamente naqueles 15 dias. 
É muito enriquecedor para nós e para as crianças, conseguir pequenas vitórias, como as crianças baterem as palmas ou dizerem adeus. Como uma miúda que quando chegámos nem se quer se ria, não conseguia fixar os olhos em nós, e uma semana depois já fazia barulhinhos de excitação. Acordava cheia de vontade de estar novamente com as crianças. Tenho pena de não poder lá ficar 3, 4 ou 5 meses. 
Que experiência mais a marcou?
A experiência mais forte foi a visita ao centro de leprosos num bairro fora da cidade, muito mais pobre do que Calcutá. Era uma casa muito limpa. Fomos visitar as camaratas dos homens e das mulheres. Estavam sentados nas camas, não se escondiam, uns só com um coto, outros sem dedos nas mãos ou nos pés, ou com os dedos atrofiados, havia rostos desfigurados e, no entanto, aceitando a sua vida, o seu karma, com muita serenidade e dignidade. Os olhos brilhantes, o sorriso até às orelhas, saudando-nos com as mãos juntas: namasté. Aquilo foi uma pancada tão forte no meu coração, que desatei num choro. Agradeci imensamente a Deus por ter enviado uma Madre Teresa, uma santa na terra. Só espero que esta obra continue por centenas de anos. 
E a experiência mais penosa?
Todas as recordações são boas.
Que ensinamentos trouxe consigo?
Quando cheguei até o barulho das ruas de Calcutá me fazia falta. O silêncio de Lisboa é que era ensurdecedor. Senti que me tornei uma criança e que qualquer pessoa que passava por mim me dava uma lição: pode-se ser feliz sem nada. Por que é que a India me chamava? Só desta segunda vez, quando regressei a Portugal, percebi o porquê do chamamento da Índia. Onde consegui encontrar uma paz diferente foi na Índia, em Calcutá. Há uma frase do Steve Jobs [fundador da Apple] que é: “cada sonho que você deixa para trás é um pedaço do seu futuro que deixa de existir.” Eu tive mesmo de realizar este sonho, para o meu bem, para o bem daqueles que me rodeiam, para o meu futuro, pois vim mais calma. Hoje tenho mais serenidade para aceitar mais as coisas, não dar importância a coisas sem importância. 
Vai voltar?
Tenho um lema de vida que é: tudo para todos. Às vezes fico cansada comigo própria porque tudo o que me pedem eu não digo que não, quero corresponder a tudo. O que senti na Índia e naquela instituição é que eu dei, mas recebi tanto mais! Vemos as crianças a brincarem com o que têm, as pedras ou um vitelinho que enfeitam com missangas, e são felizes. 
É uma lição de vida todos os dias. Porque não há tristeza, não há rancor, não há ódio, só há amor, só amor. Consegui realizar o sonho que tinha e ficou-me o bichinho. É para voltar em Fevereiro do próximo ano.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Por que é Dia da Mulher?

O dia 8 de Março é dedicado à comemoração do Dia Internacional da Mulher. Porquê este dia? 

A proposta de instituição surgiu de Clara Zetkin (1857-1933), membro do Partido Comunista Alemão que militava junto ao movimento operário e se dedicava à causa feminina, durante o Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhaga, em 1910. A proposta visava homenagear os movimentos pelos direitos das mulheres e reunir apoios para a causa sufragista e foi aceite por unanimidade pelas mais de 100 mulheres de 17 países. Não foi nessa ocasião definida uma data para a evocação. 
No ano seguinte o Dia foi celebrado a 19 de Março. Durante a Primeira Guerra Mundial, as mulheres russas manifestaram-se no último domingo de Fevereiro, enquanto no resto da Europa a comemoração ocorreu por volta do dia 8 de Março. E no último domingo de Fevereiro (que no calendário gregoriano recai no dia 8 de Março) de 1917, na Rússia, as mulheres entraram em greve por “Pão e Paz”. Em 1975, no âmbito das Comemorações do Ano Internacional da Mulher, as Nações Unidos começaram a celebrar o 8 de Março como Dia Internacional da Mulher.


Por que razão continuar a assinalar este dia?

Muitas vozes dizem que a existência deste dia é uma menorização do estatuto e do papel das mulheres, numa altura em que ninguém (a começar pela lei) questiona a igualdade. Em grande parte do mundo ocidental, os avanços conseguidos levam a que muitos (sobretudo muitas) se interroguem acerca da necessidade deste dia. A maioria das mulheres empresárias, gestoras, profissionais liberais, em suma, mulheres de carreira, que conheço abominam a carga simbólica que a palavra “feminismo” evoca e rejeitam a ideia de qualquer discriminação positiva. Elas querem ser tratadas como iguais, reconhecidas pelo seu trabalho, não querem ouvir falar em qualquer prerrogativa especial pelo simples facto de serem mulheres. Muitas dirão a velha piada: “eu não sou feminista, sou feminina”. Perante os progressos alcançados, é fácil ridicularizar alguns excessos cometidos. E o movimento feminista sofre hoje desse problema de imagem. 
Para mim, o dia 8 de Março é a oportunidade de recordar a história das conquistas femininas e, também, de chamar a atenção para o que ainda falta caminhar até se atingir a igualdade plena de direitos e deveres e, sobretudo, de oportunidades. A verdade é que, mesmo entre nós, a verdadeira igualdade não foi ainda atingida, pois continua a ser válida e actual a discussão acerca da falta de acesso a cargos de decisão (sejam políticos, sejam empresariais), da discrepância salarial, ou da necessária mudança de mentalidades. Neste cenário, precisamos de um feminismo de nova geração, que reflicta e aja sobre estas questões com ponderação e sem os tiques excessivos do feminismo, que antagonizava ou excluía os homens. Porque o feminismo que não inclua a discussão acerca dos desafios enfrentados pelos homens no novo papel que lhes é exigido está condenado ao fracasso. 
Finalmente, aquele que considero o argumento decisivo. Enquanto em metade do globo as mulheres forem mortas à nascença ou durante a gestação apenas devido ao seu género, violentadas, exploradas sexualmente, desvalorizadas, não tiverem acesso à educação, ou forem as últimas a ser alimentadas, caminharem atrás dos homens, forem impedidas de votar, de trabalhar ou de conduzir um automóvel faz sentido continuar a assinalar este dia.

sexta-feira, 2 de março de 2012

2 de Março: hoje é o dia!

Para ganhar o mesmo que os homens, as mulheres têm de trabalhar durante mais dois meses e hoje é o dia em que atingem esse período extra, necessário para compensar a diferença salarial. Por isso, a União Europeia escolheu a data para assinalar o Dia Europeu da Igualdade Salarial.
Em Portugal, a discrepância entre a remuneração média de homens e mulheres chega aos 21%, segundo os dados da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE). O salário médio mensal das mulheres é de 831 euros. O dos homens sobre para 1224 euros. Outro dado que coloca em evidência a discriminação salarial: há duas vezes mais mulheres a ganhar o salário mínimo ou menos do que homens.
Ao contrário do que se poderia pensar, a desigualdade é tanto maior quanto mais elevado é o nível de qualificação: as trabalhadoras com o 3.º ciclo do ensino básico ganham menos 20%, enquanto que as que têm formação superior ganham menos 31%. A explicação provável: de forma geral, as mulheres estão menos disponíveis para aceitar cargos de chefia, para trabalhar horas extra ou para viajar com frequência, pois são elas quem continua a assegurar os cuidados dos filhos e da casa. A diferença, mais tarde, perpetua-se nas pensões por reforma.

Para saber mais, entre no site do CITE, ou no da Comissão Europeia.