Mulheres excepcionais

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Homens recrutam homens

“As mulheres ainda são muitas vezes preteridas apenas por serem mulheres, especialmente em cargos de gestão. Tenho consistentemente favorecido os homens em relação às mulheres durante a minha carreira como um recrutador. Um homem não engravida e não vai amamentar filhos. As mulheres com filhos já têm um trabalho de tempo integral. Portanto, elas muitas vezes são excluídas na disputa pelas posições de topo numa empresa. É muito caro nomear um gestor ‘não confiável’ que pode não estar lá todos os dias.” Lars Einar Engström, psicólogo e senior partner da consultora sueca Edcolby AB, fez o mea culpa e expôs a discriminação das mulheres que é feita durante o recrutamento no mais recente post do seu blogue na MARC (que pode ler aqui). A MARC - Men Advocating Real Change, é uma comunidade on line de profissionais empenhados em atingir a igualdade no trabalho, da iniciativa da Catalyst, organização não lucrativa com a missão de aumentar as oportunidades para as mulheres. 
Esta realidade não é desconhecida. Soledade Carvalho Duarte, managing partner da empresa de executive search (pesquisa directa de quadros) Invesco/Transearch, que entrevistei para o livro As Mulheres Normais Têm Qualquer Coisa de Excepcional, contou-me: “Infelizmente, para lugares de gestão, as empresas pedem-me preferencialmente um homem. Perante dois candidatos muito bons, só é escolhida a mulher se for outstanding (é esta a expressão usada pelos meus clientes), isto é, claramente melhor do que os homens. Dizem que se corre o risco de, pelas suas responsabilidades extra-profissionais, as senhoras não se poderem dedicar tanto à empresa.” E em entrevista à revista Máxima (suplemento Mulher de negócios, 5 de Novembro de 2011) Trina Gordon, a única mulher a presidir a um grupo mundial de executive search, a Boyden, também conta que alguns clientes costumam indicar se querem um homem ou uma mulher para o lugar. 
Mesmo depois de ultrapassada a fase de admissão, as dificuldades persistem. Os processos oficiais de promoção dependem da rede de apoios que se consegue mobilizar. Como a mulher está em minoria nestas esferas de decisão, as redes informais mobilizadas e os apoios são mais escassos. Para a lógica empresarial não há, ou não deveria haver, homens ou mulheres, louras ou morenas, brancos ou pretos – mas apenas profissionais. Penso que todos acreditamos que a melhor pessoa é aquela que deve ser a que é recrutada ou promovida, sem considerações de género, raça ou qualquer outro atributo que possa ser discriminatório. Até porque na diversidade está a virtude. Só falta agir de acordo com aquilo que se diz. 

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Assuma o controlo do seu dinheiro

Susana Albuquerque: O dinheiro é a segunda
causa de divórcios em Portugal"
Licenciada em Direito, com especialização em Direito Financeiro, Susana Albuquerque, de 42 anos, é secretária geral da ASFAC, associação que representa o sector do financiamento especializado. Conferencista nacional e internacionalmente na área da educação financeira, desenvolve programas de formação, aconselhamento e coaching nas áreas da educação financeira e gestão de finanças pessoais. E, como tem formação em teatro, também actua nas áreas de desenvolvimento criativo e expressão dramática. Pode conhecê-la, também, através das suas rubricas nos programas da SIC Mulher: “Afinal de contas” “Contas à Vida” e “Contas em Dia”, nos programas Essência, Mundo das Mulheres e Mais Mulher, entre outros programas da RTP e TVI onde participa como especialista na gestão de finanças pessoais. Em 2011 lançou o seu primeiro livro em Portugal, na área da gestão de finanças pessoais: Independência Financeira para Mulheres, com o objectivo de “partihar com as mulheres portuguesas as ferramentas, instrumentos e técnicas que fui estudando e aplicando para construir a minha autonomia e segurança financeira.” 
Nesta conversa, Susana Albuquerque explica por que razão as mulheres são tão avessas a assumir as rédeas da gestão do seu próprio dinheiro: “É como se independência financeira pudesse ser fosse sinónimo de solidão. Quando a questão é exactamente a oposta.”
Por que razão decidiu escrever um livro de finanças pessoais, especificamente dirigido a mulheres? 
Porque da minha experiência como formadora e coach nas áreas da educação financeira e finanças pessoais, as mulheres assumem mais que sentem falta de informação e formação neste domínio do que os homens. 
Por que é que as mulheres receiam assumir o controlo do seu próprio dinheiro?
Por uma série de razões de natureza antropológica, cultural e mesmo histórica a que duas psicólogas americanas (Mellan e Christie) chamaram os mitos femininos em relação ao dinheiro, que analiso no meu livro, e que se podem resumir ao medo de perderem o seu companheiro ou perderem a hipótese de terem um, caso assumam controlo pleno da sua situação financeira. É como se independência financeira pudesse ser fosse sinónimo de solidão. Quando a questão é exactamente a oposta: ao ser financeiramente independente eu crio as condições para ter relacionamentos afectivos de maior qualidade, para fazer escolhas mais livres em relação ao meu trabalho, etc. 
Quais são os outros erros normalmente cometido pelas mulheres na gestão das suas finanças? 
Não fazerem o orçamento mensal ou não respeitarem os seus limites financeiros. De notar que estes erros são comuns aos erros financeiros cometidos pelos homens, mas as mulheres assumem-nos com mais facilidade.
Qual a regra de ouro no investimento financeiro?
Ser conservador e nunca arriscar mais do que 10% da sua reserva financeira em produtos com risco de perda de capital.
O dinheiro é uma fonte discussão entre os casais? Quais as principais razões? 
Sim infelizmente o dinheiro é uma fonte de discussão entre os casais e é a segunda causa de divórcios em Portugal, porque por um lado o dinheiro ainda está associado a poder e controlo e é usado dessa forma muitas vezes, sem que os casais tenham consciência disso, e, por outro lado, cada membro do casal tem valores diferentes em relação à gestão do dinheiro e não aprenderam a comunicar reconhecendo e respeitando os seus próprios valores e os do outro.
Que principais conselhos dá aos pais acerca da educação financeira dos seus filhos?
Que iniciem a educação financeira dos seus filhos com o objectivo de os ensinarem a ser financeiramente auto-suficientes, e que o façam o mais tardar por volta dos 5, 6 anos, introduzindo a partir dessa idade as semanadas, pois são a melhor forma de ensinar as crianças a fazerem e gerirem um orçamento. Para esse efeito, pode ser necessário os pais fazerem formação ou recolherem informação especializada, existente em livros e sites, para poderem tornar eficaz a comunicação e os objectivos da educação financeira dos seus filhos.
Com o sucesso profissional das mulheres, muitas ganham mais do que o marido. Como é que os homens lidam com este facto? Que conselhos deixa aos homens e às mulheres nesta situação?
Nem sempre os homens lidam bem com este facto e na minha opinião, exactamente pela mesma ordem de razões pela qual muitas mulheres temem assumir o controlo do seu dinheiro. Da minha experiência neste tipo de casos, a melhor forma de lidar com esta situação é por em prática aquilo que todos os casais deveriam fazer para construir uma relação saudável com o dinheiro: falarem abertamente sobre esse desconforto, ou sobre aquilo que sentem dado o desequilibro da situação, e que o façam numa hora por semana, ou por mês, que é reservada para falarem só sobre dinheiro, sobre os objectivos pessoais e do casal para a gestão do mesmo e para fazerem o seu orçamento mensal (garantindo que não serão interrompidos nem por crianças, nem por telefones, etc). Uma fórmula de gestão financeira do casal que é muito eficaz neste tipo de casos é a de que cada um deles contribua para as despesas comuns na proporção daquilo que ganham.